Alívio climático e ações governamentais contribuíram para queda histórica de focos de calor; Cerrado lidera registros, mas Pantanal tem redução drástica.
O mês de agosto de 2025 entrou para a história como o período com o menor número de queimadas já registrado no Brasil desde o início do monitoramento por satélite, em 1998. Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), foram detectados 17.943 focos de calor em todo o território nacional — número 62% inferior à média histórica do mês, que é de 47.348, e abaixo até mesmo do antigo recorde mínimo, registrado em 2013 (21.410).
Especialistas atribuem o resultado à combinação de um cenário climático mais ameno, após anos de secas severas, e ao reforço das ações preventivas por parte do governo federal.
🔍 Queda significativa
A comparação com anos recentes mostra a relevância da redução. Em 2024, foram registrados 68.635 focos em agosto — quase quatro vezes mais que neste ano. A diminuição não só estabelece um novo recorde positivo, como também acende uma luz de esperança sobre os esforços de prevenção e manejo ambiental.
Apesar de o acumulado de queimadas no ano já totalizar 47.531 até agosto, a distribuição mudou significativamente: o Cerrado foi o bioma com mais registros (48%), enquanto a Amazônia respondeu por apenas 22%. O Pantanal, que sofreu gravemente em temporadas anteriores, teve apenas 173 focos em todo o ano.
🛠️ Ações antecipadas e investimentos
Em fevereiro, o Ministério do Meio Ambiente antecipou a publicação da portaria que identifica áreas e períodos críticos para queimadas, possibilitando a contratação mais ágil de brigadistas. A medida foi acompanhada de um aumento expressivo nos recursos e equipamentos: são 11 aeronaves à disposição para transporte e combate aéreo ao fogo, 800 viaturas operacionais, além de drones e caminhonetes adquiridos com apoio do Fundo Amazônia.
Pela primeira vez, o fundo destinou R\$ 150 milhões para ações em biomas além da Amazônia — especificamente no Cerrado e no Pantanal.
🔥 Novo paradigma: o manejo integrado do fogo
Outra inovação importante foi a aplicação da Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo, sancionada em 2024. A abordagem quebra com o modelo exclusivamente reativo ao utilizar o fogo de forma controlada para reduzir o risco de grandes incêndios. Áreas secas são queimadas de maneira planejada, evitando que se tornem combustível para incêndios mais intensos.
— O Brasil passou décadas apenas correndo atrás do fogo. Isso resolve parte do problema, mas não a recorrência, explica a ecóloga Isabel Schmidt, da Universidade de Brasília e da Rede Biota Cerrado. Para ela, o avanço só será sustentável se houver adesão das gestões estaduais e municipais.
🏛️ Engajamento local é essencial
A efetividade das medidas depende da atuação de estados e, especialmente, de municípios, como lembra Ane Alencar, diretora de Ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam):
— O fogo acontece no território e tem que ter solução no território. Os prefeitos precisam ser protagonistas nessa agenda.
Segundo as especialistas, a combinação entre alívio climático, maior fiscalização, investimentos estratégicos e o aprendizado forçado por tragédias recentes pode ter motivado produtores rurais a evitarem o uso do fogo em suas propriedades.
🌿 Olhar para frente
Apesar do cenário positivo, setembro é tradicionalmente um mês ainda mais seco que agosto, e o risco permanece. Por isso, o presidente Lula se reuniu com governadores da Amazônia, Cerrado e Pantanal para alinhar estratégias emergenciais de prevenção e combate aos incêndios.
O desafio, agora, é manter a tendência de redução das queimadas nos próximos meses e transformar as medidas emergenciais em políticas públicas contínuas.



