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quarta-feira, dezembro 10, 2025

“Não existe possibilidade de recuar um milímetro”, afirma Alexandre de Moraes ao Washington Post

Ministro do STF relata bastidores da prisão domiciliar de Bolsonaro e defende medidas firmes contra ataques à democracia.


Em entrevista ao jornal americano The Washington Post, publicada nesta segunda-feira (18), o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, afirmou que não há “possibilidade de recuar nem um milímetro” nas decisões tomadas contra ameaças à ordem democrática no Brasil. Ele também revelou detalhes inéditos sobre a decisão de decretar prisão domiciliar ao ex-presidente Jair Bolsonaro, tomada em 4 de agosto.

Segundo Moraes, ele assistia a um jogo do Corinthians quando foi informado por celular de que Bolsonaro havia descumprido uma ordem judicial que o impedia de usar as redes sociais. O ministro relata ter agido imediatamente, determinando a prisão domiciliar do ex-presidente. A medida gerou forte repercussão internacional e reacendeu tensões diplomáticas com os Estados Unidos.

O governo do ex-presidente americano Donald Trump impôs sanções ao magistrado, revogou seu visto de entrada no país e o incluiu na lista da Lei Magnitsky, sob alegações de violação de direitos humanos. Moraes, no entanto, refutou qualquer tipo de recuo.

“Faremos o que é certo: receberemos a acusação, analisaremos as provas, e quem tiver que ser condenado, será condenado; quem tiver que ser absolvido, será absolvido”, afirmou.

Figura central no combate à desinformação

Descrito pelo Washington Post como “o jurista mais poderoso da história do Brasil” e “xerife da democracia”, Moraes tem sido o principal nome à frente das ações contra desinformação, discursos antidemocráticos e tentativas de golpe. A publicação relembra que o ministro ordenou a suspensão da operação da rede X (antigo Twitter) no Brasil, o que motivou o empresário Elon Musk a chamá-lo de “Darth Vader do Brasil”.

Entre outras decisões de impacto, Moraes determinou a prisão de políticos, ex-ocupantes de cargos públicos e a destituição do então governador do Distrito Federal após os ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023.

“O Brasil havia sido infectado pela doença do autoritarismo. Meu papel é aplicar a vacina”, afirmou o ministro.

“Escudo” contra o autoritarismo

A reportagem também destaca que Moraes foi “escolhido” pelo então presidente do STF, Dias Toffoli, para liderar uma reação institucional frente aos ataques do bolsonarismo ao Judiciário, especialmente no início de 2019. À época, foi instaurado o inquérito das fake news, que marca uma ruptura com a tradição jurídica brasileira ao permitir ao STF abrir investigações por iniciativa própria.

“Quando se é mais atacado por uma doença, você forma anticorpos mais fortes”, disse Moraes, referindo-se ao histórico de golpes e ditaduras no Brasil.

Ao todo, 179 testemunhas já foram ouvidas nos processos sob responsabilidade do ministro, incluindo investigações sobre suposto plano de Bolsonaro para se manter no poder à força, que incluiria até o assassinato de adversários políticos. Bolsonaro se diz alvo de perseguição, o que Moraes refuta.

Este é um processo legal legítimo”, garantiu.

Críticas e apoio

O Washington Post ouviu 12 pessoas próximas ao ministro. A maioria elogiou sua atuação como essencial para preservar a democracia brasileira. Outros, no entanto, expressaram preocupação com os “excessos” e o acúmulo de poder nas mãos do magistrado. Moraes rejeita as críticas.

“Meus colegas do Supremo já revisaram mais de 700 decisões minhas. Sabe quantas perdi? Nenhuma.”

Inspirado nos EUA, mas atento à realidade brasileira

Apesar das recentes tensões com Washington, Moraes disse admirar profundamente os princípios constitucionais dos Estados Unidos e afirmou se inspirar em figuras como John Jay, Thomas Jefferson e James Madison.

“Entendo que, para a cultura americana, é mais difícil compreender a fragilidade da democracia, porque lá nunca houve golpe”, observou.

Moraes responsabilizou diretamente Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente, por envenenar as relações com os EUA, espalhando desinformação e promovendo uma narrativa distorcida no exterior.

Consequências pessoais

Por fim, o ministro admitiu que sua atuação lhe custou liberdades pessoais e afetou sua vida privada, mas afirmou estar disposto a continuar enquanto houver ameaça à democracia.

“É agradável passar por isso? Claro que não. Mas, enquanto houver necessidade, a investigação vai continuar.”


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