O encontro entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente norte-americano Donald Trump, realizado neste domingo (26) em Kuala Lumpur, na Malásia, marcou um gesto simbólico e estratégico de reaproximação diplomática entre Brasil e Estados Unidos. A reunião durou cerca de uma hora e foi descrita como cordial por integrantes do Itamaraty.
De acordo com fontes do governo brasileiro, Trump elogiou a trajetória pessoal e política de Lula, demonstrando “admiração pela sua volta por cima”. Ao final da conversa, o líder americano determinou que seus secretários de Estado e do Comércio iniciem tratativas técnicas com o Brasil, abrindo oficialmente um canal de negociação entre os dois países — o primeiro desde a escalada das tensões comerciais em agosto, quando Washington impôs uma sobretaxa de 40% sobre produtos brasileiros.
Encontro com peso político
Para especialistas, o gesto tem forte valor simbólico. Segundo Lia Vals, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), o encontro foi “mais político do que econômico”:
“Ninguém esperava um acordo imediato, mas o simples ato de sentar e negociar já representa uma decisão política relevante”, destacou.
As equipes diplomáticas devem seguir com as discussões ainda em Kuala Lumpur, avaliando a suspensão temporária das tarifas enquanto as conversas avançam. O modelo repete a estratégia já usada por Trump em negociações com China e União Europeia, quando sobretaxas punitivas foram congeladas durante o processo de diálogo.
Pauta e desafios
O ex-secretário de Comércio Exterior Welber Barral, da BMJ Consultores Associados, considera que o timing político do encontro é crucial. Segundo ele, os Estados Unidos buscam firmar novos acordos bilaterais durante a passagem de Trump pela Ásia, antes de um esperado encontro com o presidente chinês Xi Jinping, na Coreia do Sul.
Barral, porém, alerta que o Brasil pode “ficar na fila” e defende a suspensão imediata das tarifas para evitar prejuízos ao agronegócio e à indústria de base. Entre os temas mais sensíveis estão as tarifas brasileiras sobre o etanol americano e equipamentos industriais, áreas em que o Brasil poderia oferecer concessões. Já questões mais complexas, como o acesso às reservas de terras-raras e a regulação de plataformas digitais, devem exigir negociações mais longas.
Nova etapa nas relações bilaterais
Para o governo brasileiro, a retomada do diálogo já é um avanço importante após meses de tensão comercial e política. A expectativa do Planalto é que a aproximação abra caminho para uma visita oficial de Lula à Casa Branca em 2026, consolidando uma nova fase nas relações entre as duas maiores economias do continente americano.
“O reencontro com os Estados Unidos simboliza maturidade diplomática e pragmatismo político”, avaliou uma fonte do Ministério das Relações Exteriores.
Com o gesto, Brasil e EUA sinalizam o início de uma agenda de reconstrução da confiança mútua, essencial para destravar acordos econômicos e fortalecer o diálogo estratégico entre os dois países.



